Luta antimanicomial
Dia para debater sobre saúde mental
Usuários, familiares e servidores dos Caps estarão no Calçadão da rua Andrade Neves para conscientizar população sobre importância dos Caps
Jô Folha -
Tratar o paciente de saúde mental de forma livre. O objetivo da luta antimanicomial é complexo, mas nobre. No dia nacional voltado ao tema, o debate se estende para além dos hospitais psiquiátricos: é necessário refletir sobre os manicômios que ainda existem na família, no ambiente de trabalho e na escola, garantem os especialistas. Em Pelotas, a Rede de Atenção Psicossocial (Raps) é uma importante ferramenta na busca pelo tratamento em liberdade.
"A loucura é uma coisa que a gente vive e trata em liberdade", argumenta a coordenadora de saúde mental do município Gicelma Kaster. Apesar disso, reconhece que, em alguns casos, a internação no Hospital Espírita de Pelotas (HEP) é necessária. Ela explica que quando o paciente apresenta sérios riscos a si ou a terceiros, muitas vezes não resta outra alternativa senão a hospitalização. "Precisamos aprender a conviver com os dois modelos de tratamento", ressalta.
No lado alternativo e mais alinhado com a lei nº 10.216/01, que redireciona o modelo assistencial em saúde mental, a cidade possui oito Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Um deles, o Caps AD, é exclusivo para o tratamento de pessoas viciadas em álcool e drogas. Há também um específico para o tratamento de crianças e adolescentes (Caps i Canguru). Os outros são divididos por região e se espalham pelos bairros de Pelotas.
Eles são um dos braços da Raps, junto de outros estabelecimentos em saúde como a Unidade Básica de Atendimento Imediato (Ubai), a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), o Pronto Socorro de Pelotas (PSP) e as Unidades Básicas de Saúde (UBS). O encaminhamento ao Caps pode ser feito através de alguma dessas unidades ou por vontade própria: basta procurar o centro da sua região e agendar um atendimento.
Foi o caso de Iazodara Guilherme, que foi ao Caps i à procura de atendimento para seu neto Pedro, de 14 anos. O menino é autista e começou a apresentar comportamento agressivo. Ele frequenta o Centro de Atendimento ao Autista Dr. Danilo Rolim de Moura e o encaminhamento para o tratamento partiu de lá. "As pessoas ficam receosas quando falam em psicólogo, psiquiatra... Mas se for para ajudar, tudo é bem-vindo", acredita.
Para Iazodara, a questão da saúde mental deveria ser mais difundida no município. "As pessoas não sabem onde buscar o atendimento", comenta. Além disso, falta preparação da sociedade para lidar com as diferenças. "Eles falam em inclusão e acessibilidade, mas isso é muito raro", fala. Ela cita como exemplo o atendimento em educação na rede pública. "Os professores não estão preparados para lidar com os alunos autistas", acredita.
Cuidado em liberdade
A proposta dos Centros de Atenção Psicossocial é tratar e ressocializar o paciente. Neste processo, a pessoa também é protagonista do seu tratamento. "Eles descobrem e desenvolvem as suas potencialidades", explica a coordenadora administrativa do Caps i Naiana Oliveira. Isso é feito através de oficinas e projetos terapêuticos que envolvem arte, música, exercícios físicos e grupos de convivência.
Gicelma Kaster afirma que a procura pelos serviços dos Caps vem aumentando nos últimos tempos. Segundo ela, o atual momento de crise colabora para esse cenário. "As pessoas estão mais tristes, mais depressivas", pontua. A desilusão com a vida e problemas financeiros são os principais problemas, afirma.
Conscientização
Nesta sexta-feira (18) à tarde os usuários, familiares e servidores dos Caps estarão no Calçadão da rua Andrade Neves. A intenção é mostrar à população que os pacientes da saúde mental devem ser tratados de forma livre. "O sofrimento psíquico faz parte das pessoas. Algumas têm em maior grau e essas precisam da nossa ajuda. Esse tratamento é feito com muito respeito e carinho", finaliza Gicelma.
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